TEMA - DESCANSANDO NA SOBERANIA DE DEUS
Texto
base - Mt 26. 26-75
INTRODUÇÃO
Penso
que nenhum de nós tem dificuldade em afirmar a doutrina da Soberania
de Deus. Está categoricamente claro nas Escrituras que nosso Deus
governa sua criação com poder, justiça e sabedoria. Nada escapa ao
seu controle. Todavia, há uma discussão acerca desse tema motivado
pelas tragédias, como: o acidente com o avião da TAM, no aeroporto
de Congonhas (18/07/07), em que morreram 199 pessoas; ou, o
devastador Tsunâmi (26/12/04), que vitimou pelo menos 220 mil
pessoas. Daí o debate que tem sido travado entre duas correntes
teológicas:
A
Teologia Relacional, também conhecida como Teologia Aberta,
Teologia do Processo ou Teologia da Autolimitação Divina, ensina
que Deus, no início da criação, teria aberto mão de sua Soberania
e Onisciência a fim de, em sociedade com o homem, construir a
história e estabelecer relacionamentos verdadeiros. Dessa forma,
vêem as tragédias como acontecimentos que fogem ao controle de
Deus. Ele não pode evitá-las. Na verdade, segundo os proponentes
desse pensamento, Deus sofre diante das catástrofes com o mesmo
sentimento de impotência que se nos impõe quando somos atingidos
por elas.
A
Teologia Reformada
sustenta a Soberania de Deus, mesmo em meio às mais absurdas
tragédias. A Confissão de Fé de Westminster afirma: “pela sua
sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre
e imutável conselho da sua própria vontade, Deus, o grande Criador
de todas as coisas, para o louvor da glória da sua sabedoria, poder,
justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e
governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as cousas,
desde a maior até a menor”. De acordo com esta confissão, não há
como imaginar alguma coisa da qual se possa dizer que tenha
acontecido sem antes ter passado pelo crivo de Deus.
Ora,
quantos de nós não teríamos vivenciado histórias dramáticas em
nossa vida ministerial? Quantas situações sinistras poderiam ser
compartilhadas. Experiências sentidas por homens e mulheres de Deus
que, não obstante a sua dedicação e amor à causa do Senhor, são
vítimas de injustiças, de calúnias, de perseguições, de
traições, de privações, de enfermidades e outros sofrimentos.
Como, pois, sustentar a doutrina da Soberania de Deus à vista dessas
coisas?
O
texto lido concilia as duas noções. É a narrativa dos instantes
que antecederam a cruz. Aqui, fica absolutamente claro que a vontade
do Pai está sendo executada. Os versículos 31, 54 e 56 salientam
que todas as coisas estavam acontecendo para que se cumprissem as
Escrituras. O que significa que fazer a vontade de Deus não é uma
garantia de isenção de sofrimentos e que sofrimentos nem sempre são
indicativos de que alguém não esteja fazendo a vontade dEle. Porque
aqui Jesus se submete totalmente à vontade do Pai e, no entanto,
prova as mais amargas experiências:
Experimenta
a dor da traição,
ao ver aquele em quem investiu seu tempo, seu afeto e cultura e com
quem compartilhou sua vida, trair sua amizade e lhe apunhalar pelas
costas.
Experimenta
o pavor da morte
que se avizinhava.
Experimenta
o abandono dos amigos
que não lhe foram solidários quando deles precisou.
Experimenta
a frustração ao ver Pedro, seu discípulo, agir como um mundano
e lançar mão da espada, contrariando todos os ensinamentos que dele
recebera ao longo dos últimos três anos.
Experimenta
a frustração ao ver a negação de um dos melhores amigos
que, diante de uma situação pública, afirma jamais tê-lo
conhecido, não ter com ele a menor relação, não guardar a
lembrança de nenhum encontro.
Enfim,
experimenta as mais horríveis humilhações, zombarias e as mais
lancinantes dores físicas.
Se
Jesus sabia que passaria por tudo isso, por que se submeteu à
vontade do Pai? Jesus se submeteu à vontade do Pai porque descansava
nEle. Quando Pedro golpeou o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a
orelha, Jesus lhe disse: “Guarde a espada! Pois todos os que
empunham a espada, pela espada morrerão. Você acha que eu não
posso pedir ao meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha
disposição mais de doze legiões de anjos? Como então se
cumpririam as Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer
desta forma?” - Vs. 52-54 - NVI.
Isto
é descansar na SOBERANIA de Deus: É desistir de lutar com as
próprias armas! É aceitar a liberdade de Deus de usar os
instrumentos que pensamos que não usaria e de não usar os
instrumentos que pensamos que usaria. Enfim, é saber que todas as
coisas, em última instância, cooperam para nosso bem, mesmo aquelas
que se nos apresentam com cara de absurdo.
Cristo
descansava na Soberania de Deus e isso implicou:
PRIMEIRO - NA
MANEIRA COMO REAGIU ÀS PESSOAS - Vs. 32, 46, 50
Jesus
sabe que “as coisas deveriam acontecer desta forma”. Por isso,
não deixa o coração adoecer por conta das pessoas que entende
serem instrumentos de Deus para execução dos seus planos. Vejamos:
Em
relação aos seus discípulos - Vs. 32.
Sabe que será abandonado por eles, mas, mesmo assim quer
reencontrá-los após a ressurreição.
Em
relação a Judas -Vs. 50.
Não o desconsidera por conta do seu lapso. Dizem os estudiosos que o
Jardim do Getsêmani pertencia a um dos discípulos e era o lugar dos
seus encontros particulares. Judas, não respeita isto, expõe aquele
lugar, lidera uma multidão armada com espadas e porretes. Quando se
aproxima dele “lasca-lhe” um beijo. Segundo comentaristas
bíblicos foi um espetáculo esmerado de afeição. Jesus olha para
ele e lhe chama de amigo. Jesus estava sendo cínico? Creio que não.
Jo.13.1 diz: “Tendo amado os seus os amou até o fim”.
Em
relação aos que o crucificaram.
É capaz de um ato de bondade, mesmo quando o objeto dessa bondade é
o servo do sumo sacerdote enviado para lhe prender - Lc 22. 52. Uma
das palavras da Cruz, foi: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o
que fazem” - Lc 23. 34.
Quantos
“traumas” são curados quando olhamos para a vida nessa
perspectiva. José entendia dessa forma. Quando seu pai morreu seus
irmãos ficaram preocupados imaginando que ele lhes retribuiria o mal
que lhe fizeram, no entanto, José faz uma das mais lindas confissões
acerca da soberania de Deus: “Vós, na verdade, intentaste o mal
contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes
agora, que se conserve muita gente em vida” - Gn 50. 20.
SEGUNDO - NO
MODO COMO ENTENDEU A NÃO INTERVENÇÃO SOBRENATURAL DO PAI – Vs.
53.
É
impressionante a declaração de Jesus, no versículo 53: “Acaso,
pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria nesse
momento mais de doze legiões de anjos?”. Uma legião romana era
composta de seis mil soldados. Logo, 12 legiões correspondem a 72
mil anjos. Ou seja, Jesus sabia que os céus podiam livrá-lo daquele
momento, se fosse o caso.
Em
quantas outras ocasiões Deus visitara o seu povo por intermédio
dele? Curando enfermos, exorcizando demônios, acalmando tempestades,
ressuscitando mortos. Por que Deus não interveio em seu favor
naquele momento? Tenho entendido duas coisas:
a)
Deus tem o tempo certo para intervir em nossa vida.
Na história de Jesus, o tempo certo seria o terceiro dia. Ele tinha
de passar por tudo aquilo. Tinha de morrer pelos nossos pecados.
Porém, sabia que o Pai não “deixará a minha alma na morte, nem
permitirá que o teu Santo veja corrupção”, Sl 16. 10.
b)
Há situações nas quais Deus não intervém da forma como pensamos
– II Co 12. 7.
Paulo orou três vezes por conta de um “espinho na carne” e a
resposta que obteve de Deus foi: “a minha graça te basta”. Crer
na Soberania de Deus me permite olhar para Ele sem desconfianças
mesmo diante das situações mais “incoerentes” da minha vida.
Cristo descansava na soberania de Deus.
TERCEIRO - NA
FORMA COMO SUSTENTOU SUAS CONVICÇÕES - Vs. 64.
O
principal motivo pelo qual os judeus o prenderam foi a sua alegação
de que era o Filho de Deus. Quando o sumo sacerdote lhe disse: “Eu
te conjuro pelo Deus vivo que nos diga se tu és o Cristo, o Filho de
Deus”, ele respondeu: “Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro
que, desde agora, vereis o Filho do homem assentado à direita do
Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”.
Ele
foi capaz de sustentar sua fé:
a)
Diante de sacerdotes furiosos.
Diante de soldados agressivos. Diante de uma multidão hostil;
b)
Mesmo quando os discípulos não sustentaram a mesma convicção.
Pedro é um exemplo de alguém capaz de discursos inflamados em
ambientes religiosos, contudo, de atitudes covardes em ambientes
“seculares”;
c)
Mesmo diante da pressão da morte.
Mesmo na expectativa de que sua fé poderia levá-lo a morte, Ele
afirma: “Eu sou o Cristo”.
Não
temos sido valentes de mais nos ambientes religiosos e tímidos
demais nas “segundas-feiras” da vida?
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